Esse livro é uma cortesia da Editora Intrinseca
Em 1914, St Péronne foi uma das primeiras cidades francesas a serem ocupadas pelos alemães, na Primeira Guerra Mundial. Com a ida da maioria dos homens para a guerra, as mulheres, idosos e crianças ficaram responsáveis por cuidar uns dos outros. Com Sophie e Hélène e seus maridos, não foi diferente. Determinadas a suportar a distância e o futuro incerto, elas mantinham aberto o Lê Couq Rouge, que antes era um hotel luxuoso e agora beirava a pobreza, após os confiscos do exército alemão. Nesse hotel, serviam apenas algumas bebidas, já que não restou nada nos quartos para hospedar ninguém.
Sophie era delicada e determinada. Vivendo apenas de pequenas porções de pão preto e de algumas sobras compartilhadas entre os vizinhos, ela ajudava como podia.
Quando o comandante da tropa que estava na cidade decidiu que ela e sua irmã deveriam cozinhar para seus homens, apesar da frustração de ter o inimigo tão perto, ela ficou aliviada por poder proporcionar pequenas sobras para seus irmãos e sobrinhos. A presença imposta pelo comandante era sufocante, porém, o fato de entender de arte e admirar um quadro que o marido de Sophie, Édouard, havia pintado dela, a fazia lembrar com saudades da época em que se conheceram e a forma como ele entrou em sua vida.
Pela narrativa de Sophie , podemos imaginar os soldados marchando, sentir o cheiro dos alimentos que preparavam e da sensação agonizante do frio e da falta de aquecimento.
Em 2006, uma época bem diferente, Liv sofre há 4 anos pela perda do marido, que morreu subitamente. Vivendo sozinha na casa que ele projetou, toda de vidro, ela sentia como se viver num lugar que ele havia idealizado pudesse manter acesa a memória do homem que foi o mais importante em sua vida. O quadro “A garota que você deixou para trás”, que ficava em frente a sua cama, era seu objeto preferido na casa. Apesar de sentir como se a garota do quadro a vigiasse o tempo todo, havia uma expressão forte e pensativa que ajudava Liv a enfrentar sua rotina diária.
Paul é um ex-policial, divorciado, que trabalha num escritório que atende clientes em busca de obras de artes que foram perdidas ou roubadas em determinado período. Apesar de estar no ramo há alguns anos, ele sente que muitas vezes os objetos devolvidos a seus legítimos donos não têm o valor sentimental que ele esperava. Alguns só desejam tê-los de volta para vendê-los. Isso é um grande dilema em sua vida.
Paul e Liv são bem diferentes, mas quando se encontram no bar que o irmão de Paul dirige, são atraídos imediatamente. Ela perde a bolsa e acaba indo dormir na casa desse estranho. Liv se pergunta o que David pensaria dela se beijasse Paul. Ele, por sua vez, está com medo que ela se arrependa depois que ficar sóbria. Quando ela desaparece no dia seguinte, Paul usa todo o seu conhecimento de ex-policial para recuperar a bolsa e ter uma desculpa para encontrá-la.
Começa então a saga que ambos viverão. Oscilando entre a tristeza e a esperança, cada página é uma angustiante e nova surpresa. A garota que você deixou para trás, publicado no Brasil pela Editora Intrínseca, retoma toda a discussão sobre os saques promovidos pelos alemães e todo o dilema moral sobre os verdadeiros donos. Também nos emociona com a tentativa de Liv honrar a memória de Sophie, que ficou denegrida e esquecida nesses 100 anos que separam as histórias. Apesar de ficção, é bem provável que existam histórias desse cunho perdidas por aí.
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